O verdadeiro amigo. Esopo.

O verdadeiro amigo. Esopo.

 

O verdadeiro amigo

 

Sempre que havia guerra, o soldado tratava o seu cavalo com todos os cuidados. Dava-lhe da melhor aveia e da água mais pura. Limpava-o quando estava suado, cobria-o com um cobertor nas noites frias de Inverno.

E por isso o cavalo era forte, e levava o dono são e salvo para longe dos perigos da guerra.

Mas, quando se fez a paz, o soldado abandonou-o. Deixou o cavalo num campo cheio de cardos, e só lhe deu um punhado de aveia bolorenta para comer. O estábulo era uma cabana com o telhado desconjuntado e o chão de lama. E a única água para beber era a de uma valeta junto da paliçada. Durante o dia, o soldado obrigava o cavalo a trabalhar muito na sua quinta, puxando pesadas carroças.

Passado algum tempo estalou de novo a guerra. O soldado vestiu a couraça de ferro e calçou as botas. Agarrou na espada e foi ao campo buscar o cavalo. Sacudindo-lhe à pressa os cardos agarrados ao pêlo, pôs-lhe a sela no dorso, afivelou-lhe a cabeçada sobre as orelhas sarnentas, e montou-o.

Mas o cavalo começou a dobrar as patas magras, e deixou-se escorregar devagarinho para o chão, lançando ao dono um olhar de censura.

- Meu dono – disse ele – desta vez tens de combater a pé. Obrigaste-me a trabalhar que nem um burro, e alimentaste-me como se eu fosse uma cabra. Não posso transformar-me agora de repente num verdadeiro cavalo, só porque precisas de mim outra vez.

Nunca te esqueças: não abandones os verdadeiros amigos só porque já não precisas deles.